quarta-feira, 30 de abril de 2025

Cães (excerto) - Desafinador de palavras

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Quem pode ser mais fiel que um cão?…
Quem nos pode defender mais que um cão?…
Quem nos pode dar tudo, sem pedir nada em troca?…
Ninguém!…
Só mesmo os nossos amados cães, são fiéis, mesmo que
a morte lhes bata à porta.
Guerreiros que por sinal, e a dar sinal… estão sempre de
guarda dentro do nosso coração e sentados à nossa porta,
à espera que cheguemos perto deles, para nos entregarem
tudo, sem nos pedir nada em troca.
Amo e dou a vida pelos meus cães, apenas lhes peço,
que de dia, descansem no meu quarto, e de noite, estejam
atentos à minha vida, estejam atentos ao meu coração,
estejam atentos…, à minha porta…

EM - PAIXÃO - FRANCISCO MCM FAUSTINO (DESAFINADOR DE PALAVRAS) - IN-FINITA

terça-feira, 29 de abril de 2025

Mulher - Leonora Rosado

Mulher
O meu revólver cresce
O meu ímpeto
É um bala perdida
Uma sonata em tempo de uvas
O meu trauma foi
Ver-te nascer sobre o rio
E o desejo, ah! O desejo
Equimose tardia
Sombra precoce

EM - TRAUMA - LEONORA ROSADO - LICORNE

segunda-feira, 28 de abril de 2025

Mar sonoro - Sophia de Mello Breyner Andresen

Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim,
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho,
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.

EM - OBRA POÉTICA - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - ASSÍRIO & ALVIM

domingo, 27 de abril de 2025

O Bandarra - Fernando Pessoa

Sonhava, anónimo e disperso,
O Império por Deus mesmo visto,
Confuso como o Universo
E plebeu como Jesus Cristo.

Não foi nem santo nem herói,
Mas Deus sagrou com Seu sinal
Este, cujo coração foi
Nem português mas Portugal.

EM - MENSAGEM - FERNANDO PESSOA - ASSÍRIO & ALVIM

sábado, 26 de abril de 2025

Pena - Fernando Vasconcelos

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Pena!
Que as águas cristalinas
Fiquem turvas de maldade...
Pena!
Que nasçam manhãs sombrias
No degelo do Pólo Norte
Pena!
Que o tempo corra a galope
Sem aproveitar suas vagas
Num vaivém desmedido
Perdendo a viagem das ondas
Espraiando-se sobre a areia
Sumindo...
Pena!
Pena errante, mártir que esvoaça
Ao sabor do vento
Para jamais voltar
À vida de alguém...

EM - VERSOS E DESABAFOS - FERNANDO VASCONCELOS - IN-FINITA

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Apenas vou - Desafinador de palavras

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Visto-me…
E sinto-me sempre tão…
Nu
Depois tiro as roupas
E sinto-me sempre tão…
Vestido
Até parece que alguém
Não queria que eu tivesse nascido
Não tivesse existido
Já não sei, se me vista…, ou se me dispa…
Ou se me deixe estar como estou
Sou um nudista da vida
Apenas caminho…
Sem destino…
E vou…

EM - PAIXÃO - FRANCISCO MCM FAUSTINO (DESAFINADOR DE PALAVRAS) - IN-FINITA

quinta-feira, 24 de abril de 2025

Noites sem nome - Sophia de Mello Breyner Andresen

Noites sem nome, do tempo desligadas,
Solidão mais pura do que o fogo e a água,
Silêncio altíssimo e brilhante.

As imagens vivem e vão cantando libertadas
E no secreto murmurar de cada instante
Colhi a absolvição de toda a mágoa.

EM - OBRA POÉTICA - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - ASSÍRIO & ALVIM

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Renovar-se - Zezé Matos

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Manhãs exibem orgulhosas
O brilho orvalhado do que se sonhou.
E a vida cheia de alegria se fez canção e cantarolou:
Amanhecer
Tecer afetos, brincar de viver.
Amanhecer.
Derramar-se em palavras.
Que derretam corações concretos.
Em ruas largas de bem querer
Brincar de viver.
Amanhecer.
Viajar em balões esperança como em Istambul
Rodopiar no céu azul ascender.
Amanhecer.
Dançar dias de bonança.
Cirandar com amigos, ser canção criança.
Afagar em abraços, saltitar de alegria
Escrever poesia.
Amanhecer.
E você?
Amanheceu?

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

terça-feira, 22 de abril de 2025

No ponto... - Sophia de Mello Breyner Andresen

No ponto onde o silêncio e a solidão
Se cruzam com a noite e com o frio,
Esperei como quem espera em vão,
Tão nítido e preciso era o vazio.

EM - OBRA POÉTICA - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - ASSÍRIO & ALVIM

segunda-feira, 21 de abril de 2025

FRA-G.ME/n/TOS - Vanessa Pagy

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investigo
os fragmentos
que me compõem

o chocolate
em fusão

entorpece
o insuportável sentir

mecanismo introjetado
de controle pela boca

interromper
pra suportar

acumular
e não entregar

a dor

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

Porque vives em sobressalto - Fernando Vasconcelos

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Porque vives em sobressalto,
Nessa tristeza constante,
É necessário teres esperança!
Num caminhar desenvolto
Sobre a incerteza temida
Do silêncio ininterrupto da noite...
Lanço meus passos, seguro
E sequioso de um trago de amor
Refrescante e bem quente...

EM - VERSOS E DESABAFOS - FERNANDO VASCONCELOS - IN-FINITA

domingo, 20 de abril de 2025

Sou aquela - Tita Leal

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Eu sou aquela
Que viaja por dentro
Morre e renasce
A cada dia, instante
E a todo o momento

Sou aquela
Esculpida a rigor
Entrego-me na amizade
Deleito-me no amor

Eu sou aquela
Que não finge silêncios
Nem costura sonhos agitados
Sou aquela que se agarra à esperança
E ombros na esquina da sorte encostados

Eu sou aquela
Que a vida condena
Por não ser outra
Nesta viagem demasiado pequena

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

Apaixonado pela vida - Desafinador de palavras

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Loucamente apaixonado pela vida
Fiz amor com ela, viajei em sonhos com ela
Agarrei-me à mesma como uma lapa
Fiz com ela tudo o que os amantes fazem
Sem saber que atrás das costas, ela tinha uma faca
Amei-a tanto…
Dei-lhe tudo o que podia, até lhe dei o que não devia
Dei-lhe a minha vida, mesmo sabendo, que ela não o merecia
Amei-a quase tanto… como amei e amo as minhas filhas
Como amei e amo a minha mulher
E ela…, a vida…, rejeitou-me…
Depois de lhe ter dado tudo de mim…, rejeitou-me
Rejeitou-me como um cão vadio
Sem contemplações… sem misericórdia… sem empatia…
Sem pudor pediu-me, uma das minhas queridas filhas
Mesmo eu, não a querendo dar…
Ela, sem a minha autorização…, levou-me uma filha
Talvez por ciúme, talvez por coisa nenhuma
Levou-a… Levou-a… Levou-a…

EM - PAIXÃO - FRANCISCO MCM FAUSTINO (DESAFINADOR DE PALAVRAS) - IN-FINITA

sábado, 19 de abril de 2025

Gota de água - Tiló Henriques

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Aquele teu olhar foi a gota de água
explodiu algo dentro de mim
como se fosse o sol a me beijar
como se fosse uma noite de estrelas
e me quisesse esconder no luar
para não veres a minha face a ruborizar

E a gota de água
foi nascente de algo inconsciente
água e fogo se confundem
entre as margens das flores silvestres
mordemos os morangos selvagens
no orvalho nos banhámos
confundindo os sentidos
descemos o rio seguindo unidos

Caminhámos e atingimos
o mar do amar
subimos montanhas floridas
descemos ao vale das margaridas
e nossas almas permanecem unidas…

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Evohé Bakkhos - Sophia de Mello Breyner Andresen

Evohé deus que nos deste
a vida e o vinho
e nele os homens encontraram
O sabor do sol e da resina
E uma consciência múltipla e divina.

EM - OBRA POÉTICA - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - ASSÍRIO & ALVIM

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Poetizar - Teresa Carrapato Moleiro

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Todo o Poeta é luz!
Não quer dizer que seja o génio da lâmpada…
Nem tão pouco deve ser altivo, soberbo
Simplesmente SER um humilde trovador
Cantando em verso
A beleza do mundo, do sol, da terra,
De todo o universo!

Versejar, igualmente,
A amargura, a desesperança
Dos dias sombra,
Em que nasce um braço de mar
Nos olhos,
Faz sulcos na face…
Com imensa dor
O diadema é derrubado!
Ficamos tão somente sós
No espaço sideral
Numa espera infindável
Dos que não chegam a ascender
E a beber na taça de água salobra.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Presos por correntes de pranto - Fernando Vasconcelos

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Oh senhor tutor do mundo,
Aceita de mim esta prece!
Por todas as mentes enfermas,
Para que as libertes!
Oh senhor tutor do mundo
Não cosas o mundo,
Com linhas frágeis,
Ponteia-o com linhas de graça,
Em costura perfeita e pomposa...
Oh senhor tutor do mundo...
Solta-o das correntes amargas,
Curando toda a ferida de mente,
Desobstruindo seus receios...!
Oh senhor tutor do mundo...
Abri caminho aos infernos,
Em mar inseguro e revolto,
Lavando daí suas mágoas!
Para que possa de novo,
O sol sorrir a seus olhos.

EM - VERSOS E DESABAFOS - FERNANDO VASCONCELOS - IN-FINITA

terça-feira, 15 de abril de 2025

A Flecha - Sílvia Silva

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Ainda sonho contigo.
Lindas histórias, se durassem para sempre...

Como nós duas...
Inocentes trocas de desenhos, até apartarmos.

Mas quis o destino, trazer-me a outra alma doce
E mel... com ele tinha fel, cortou-se o laço...

Voltar a confiar, com a doença a consumir?

Como? Se onde vive a partilha, tem caos?

Não sei o teu nome nem as letras que te compõem
Mas um dia te escolherei a ti
Como tu só me escolherás a mim

Até lá... só me posso preparar
P'lo momento em que as setas se cruzarão
E depois... em frente se lancem
Acima de irmandade...
O melhor sabor, de Amizade.

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Anjos - Desafinador de Palavras

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Anjos voam suavemente
Por cima das guerras da nossa mente
Mas, estamos tão obcecados em vencer batalhas
Que nem damos por eles, mesmo estando à nossa frente…
Tento me acalmar, apaziguar
Puxar pela minha sensibilidade, estar atento
Para ver se vejo uma asa branca
No meio destas guerras, no meio deste tormento…
Anjos voam suavemente
Entrando na nossa vida
Uns depois partem… outros ficam para sempre
Mas o legado que sempre deixam
Nos marca eternamente…
Anjos voam suavemente
Uns entram nas nossas vidas
Com asas brancas, com luz e amor divino
Outros… entram na nossa vida
Em forma… da nossa gente…

EM - PAIXÃO - FRANCISCO MCM FAUSTINO (DESAFINADOR DE PALAVRAS) - IN-FINITA

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Gestos imperfeitos - Sara Timóteo

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Todos os gestos imperfeitos
nasceram da sombra de Sócrates
a passear pelos escombros de um
veredito para a transparência dos dias:

a ausência
fez ninho no interior
do horizonte sob medida que nos venderam
e emudeceu o nosso murmúrio coletivo
sobre a terra que nos cobre ou consome.

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domingo, 13 de abril de 2025

Eu - Sandra Pereira

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Chamam-me solidão…
Eu, chama
Eu, gelo
Saio para a noite
De negro me visto…
Sou assim
Pedra…
Vulcão, rio de lava
Enfeito-me
De cristais de gelo
Sou eu…
Eu, rosa
Eu, espinho
Perfume, sou eu
Eu… solidão!

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sábado, 12 de abril de 2025

Justiça maquiada - Saíle Bárbara Barreto

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Que perigo ela trazia: um batom! quem diria?
Poderia destruir o mundo, até que um dia...

Foi presa e desarmada,
Já está há quase dois anos enjaulada!

"Que apodreça na cadeia", uns gritam!
Cabeleireira e mãe de dois, outros ponderam...

Os pobres sempre arcam com o estrago,
Mesmo quando o crime é passar batom no largo.

Ah, que bela artimanha!
Deixaram uma mulher servir de boi de piranha.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Hormônio do Amor - Rose Pereira

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O amor — antes um poema,
Doce verso das paixões,
Inserido nas canções
Eternizado no cinema
Proposição e teorema
Saudade…quase uma dor.
Manso, voraz e tentador,
Juras dos enamorados,
De solteiros e dos casados,
Infinitamente acolhedor.

Ah! antes um poema,
Brandura, oásis e calor,
Escritos em pétala de flor
Vozes da alma em fonema,
Íntimo e de pujante tema
Feitos em glória e temor.
Adorado em sigilo clamor
De pureza e tão profundo
Desejado por todo mundo
Assim fostes tu — o amor.

Incondicional! Quem diria
O teu nome agora é passado
Obsoleto, aprisionado,
Dos sentidos, inútil teoria
És agora acervo de galeria
Triste rima do alucinado,
Já no futuro, ignorado
E em tempos de escuridão
Pouco conhece o coração
Do amor, e de ser amado.

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Quão poderosa é a natureza - Fernando Vasconcelos

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Neste mar enxugo minhas lágrimas
Aliviando minha dor
Exorcizando meu pranto...
Conectando-me com seus poderes
Curativos e benéficos
Agradeço pela sua existência
Refrigerada e de compaixão

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quinta-feira, 10 de abril de 2025

Sem grades - Rosário Pereira

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Inteligência de morte e pecado
Sonhos aprisionados numa mente livre
Erros partilhados com momentos perdidos
Liberdade depositada numa caixa com cadeado.

Horas sem temas nem azos
Só ordens deleitadas em leis
Habitam os minutos em folhas brancas
E as meias horas em letras soltas num livro qualquer.

Os olhares prendem-se em grades de ferro frio
Cada uma com a sua história dispersada pela ferrugem do tempo
Preso numa mão de unhas sujas.

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

Acumulador de sonhos (excerto) - Desafinador de palavras

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Arrebanho amores, até desamores arrebanho
Ajunto palavras, recolho desejos
Apenas para me lembrar, dos antigos abraços
Tudo coleciono, até insensíveis e contrariados beijos

Amontoo pedras e grãos de areia
Acumulo sonhos
Coleciono amizades, até desamizades coleciono
Tudo acumulo, velharias e sucatas, que já tiveram outros donos

Tento ter tudo
Até tento ter nada, de tudo querer ter
Acumulo sonhos não concretizados
Apenas para me distrair e me entreter

Tudo acumulo
Sem de nada do que vivi, me querer desfazer
Tenho a vida cheia de coisas
Algumas até as daria, para nunca mais, as poder ver

EM - PAIXÃO - FRANCISCO MCM FAUSTINO (DESAFINADOR DE PALAVRAS) - IN-FINITA

quarta-feira, 9 de abril de 2025

A deusa - Rosário Pedroso

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brilha na noite misteriosa a malabarista de Lagos
em ímpetos de felicidade parece um sol grego
encanta a praça sulista junto à Cândido dos Reis
excessiva e rubescente
entusiasma-me o meneio do fogo
uma destreza feminina
perante o olhar atento de Héstia
distrai as famílias do mercado dos escravos
dos drones por toda a parte
dos diques que rebentam todos os dias
das mulheres migrantes e desaparecidas
uma mistura de luz e sombras
borda a euforia da jovem mulher
perante os aplausos e a sua envoltura com os tempos
e a noite continua

EM - MULHERIO DAS LETRAS PORTUGAL - COLETÂNEA - IN-FINITA

terça-feira, 8 de abril de 2025

Meio-dia - Sophia de Mello Breyner Andresen

Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém.
O sol no alto, fundo, enorme, aberto,
Tornou o céu de todo o deus deserto.
A luz cai implacável como um castigo.
Não há fantasmas nem almas,
E o mar imenso solitário e antigo
Parece bater palmas.

EM - OBRA POÉTICA - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - ASSÍRIO & ALVIM

segunda-feira, 7 de abril de 2025

D. Afonso Henriques - Fernando Pessoa

Pai, foste cavaleiro.
Hoje a vigília é nossa.
Dá-nos o exemplo inteiro
E a tua inteira força!

Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infiéis vençam,
A benção como espada,
A espada como benção!

EM - MENSAGEM - FERNANDO PESSOA - ASSÍRIO & ALVIM

domingo, 6 de abril de 2025

Um alento para a dor - Fernando Vasconcelos

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Vasculhei por muitos portos
um alento para a dor!
Aportando, largando amarras
navegando sem conforto
intentando sem descanso
em dobrar esse tormentoso
e malfadado cabo Bojador!
Procurei em terra fértil
nas montanhas mais inóspitas...
De eu tanto procurar!
Apoderou-se de mim o cansaço
ainda assim não desmerecendo
procurei dentro de mim!
Em meu interior nada encontrei
somente um vazio desesperante...!
Mas quando menos o esperava
esse alento aportou-se em mim!
com uma fina tonalidade
de rimas breves poetizadas
entusiásticas, refrescantes
solicitando, a tão ansiada paz
espiritual, revigorante de alma
por mim tão ansiada
fora e dentro, de meu coração...
seu carinho foi o bálsamo
tesouro de requinte
de uma fogosa fineza de luz

EM - VERSOS E DESABAFOS - FERNANDO VASCONCELOS - IN-FINITA

sábado, 5 de abril de 2025

Ciclos do feminino - Raiza Figuerêdo

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as roupas nos armários
podem passar anos
sem você lembrar delas
esquecidas em gavetas
um vestido tubinho
te faz voltar aos vinte anos
as saias longas, leves
e as recordações da faculdade
a calça leg e o all star que você usava
marcas do adolescer
e o vestido do batizado com as manchas
escrevendo o tempo e a história no tecido
da época em que você
dava os primeiros passos
antes de se transformar
em menina
moça
e mulher
que faz das palavras
companhia
alento
       ofício

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A mesma gente - Desafinador de palavras

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Se tudo correr bem… e, com a normalidade natural das
coisas, qualquer dia, ninguém se vai lembrar de ti, muito menos de mim.
Se deixares algum dinheiro, para alguém gastar, ainda se
vão lembrar do teu sorriso, enquanto o dinheiro não acabar…
Depois… nem uma flor na campa no dia de finados, te vão entregar…
E tu…, que pensas que és diferente, tu és igual a toda a gente…
Tira isso da cabeça, todos se vão esquecer de ti, até mesmo
antes, que o teu corpo arrefeça…
Deixemo-nos de ilusões e de tangas, somos todos iguais,
somos todos feitos da mesma massa.
Ninguém é diferente, somos todos cães de caça, na linha
da frente, a ver se ninguém nos ultrapassa.
Andamos todos ao mesmo, somos todos filhos do mesmo
pai, somos todos descendentes, da maçã e da serpente,
descendentes da tal mulher «devassa».
Somos todos… a mesma gente, somos todos… da mesma raça…

EM - PAIXÃO - FRANCISCO MCM FAUSTINO (DESAFINADOR DE PALAVRAS) - IN-FINITA